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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

ESCOLA DOS ANNALES: A INTRODUÇÃO DA “MULHER” NA HISTORIOGRAFIA (2º Tópico)



*     2ª Tópico: A TERCEIRA GERAÇÃO E A INCLUSÃO DA MULHER NA HISTORIOGRAFIA
Por: Eliazar Lopes Damasceno¹ Eliseu dos Santos Lima²

A partir da segunda metade do século XX o surgimento de uma terceira geração da escola dos Annales se torna inevitável. Com a participação de jovens na sua administração ocorreram muitas mudanças intelectuais, e em decorrência disso tornou-se difícil traçar um perfil dessa terceira geração. Vários membros que compunham esse grupo levaram a frente o projeto de Febvre, expandindo a fronteiras da história, incorporando a infância, o sonho, o corpo, e até mesmo o odor. Uns queriam o retorno da história política e dos eventos, alguns continuaram a praticar a história quantitativa ao mesmo tempo em que outros a criticavam. O que podemos perceber é que nesse período havia vários conflitos e projetos historiográficos dentro de um mesmo grupo. Também foi na terceira geração que ocorreu a inclusão da mulher na historiografia dos Annales, e uma mulher recém incorporada, e que merece destaque é Cristiane Klapisch, que segundo Burke fez um bom trabalho sobre a história da toscana durante a Idade Média e o Renascimento, além desta, outras mulheres também merecem destaque como é o caso de Mona Ozout, que fez um estudo sobre os festivais durante a Revolução Francesa; Arlete Farge, que estudou o mundo social das ruas da Paris no século XVIII; Michele Perrot, que escreveu sobre a história do trabalho e a história da mulher.
Burke trata em sua obra sobre a forma em que a mulher era tratada antes desta terceira geração e como ela foi incorporada a partir de então:
"os historiadores anteriores dos Annales haviam sido criticados pelas feministas por deixarem a mulher fora da história, ou mais exatamente, por terem perdido a oportunidade de incorporá-la à história de maneira mais integral, já que haviam obviamente mencionado as mulheres de tempo em tempo." (BURKE, 1992, p. 56)
Com essa afirmativa podemos perceber que até a terceira geração dos Annales, as mulheres não tiveram participação com significância na historiografia. Além da incorporação feminina esta geração ficou mais aberta à idéias vindas do exterior, Reis afirma que "os Annales, apesar de sua vivacidade, nunca construíram uma escola no sentido estrito, isto é um modelo de pensamento fechado em si mesmo (REIS, 2000), além das novas abordagens que ainda estão sendo exploradas por historiadores, mas como nosso interesse é a inclusão da mulher na história, não faremos um maior aprofundamento sobre esses assuntos.
Tentando compreender e explicar a trajetória feminina na historiografia a partir da terceira geração da Escola dos Annales, percebemos que a história das mulheres não fica restrita a França, sede desta escola, ela se estende a países como a Grã-Betanha, Estados Unidos, Olanda, Itália, dentre outros que também tiveram nomes de significância para a historiografia. No final do século XIX, com a história positivista voltada para as questões políticas e pelo domínio publico, o foco estava centrado nas questões administrativas, políticas e militares, lugares estes onde a mulher não estava inserida ou não tinha participação significante, daí é um pressuposto de seu esquecimento, a não participação nos movimentos historiográficos desta época. A Escola dos Annales tenta mudar isso e construir uma história dos seres vivos, concreta e a trama do seu cotidiano. Foram estes fatores junto com o desenvolvimento de novos campos como a história das mentalidades e a história cultural que contribuíram para a incorporação das mulheres à historiografia. Os movimentos feministas que começaram na década de 60 nos Estados Unidos, assim como em outros países, tiveram grande contribuição para o surgimento da história das mulheres. Esses movimentos reivindicavam direitos e participações em setores da sociedade, isso levou a várias discussões em universidades, que se viram obrigadas a criarem cursos e grupos de reflexão sobre o assunto.
Para entendermos melhor o porquê da dificuldade em se fazer uma história das mulheres, Cardoso e Vainfas afirmam que "a escassez de vestígios acerca do passado das mulheres, produzidos por elas próprias constitui-se num dos grandes problemas enfrentados pelos historiadores." (CARDOSO E VAINFAS, p 195). Desta forma podemos perceber algumas das barreiras que os historiadores encontram quando tentam fazer uma trajetória da mulher. Numa tentativa de ampliar as fontes de pesquisa, Michelle Perrot afirma que os arquivos particulares como os diários, fotos e anotações são mais generosos em informações, e que tem um maior teor de conteúdos para construção de uma história mais completa sobre as mulheres.

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