
Por: Eliazar Lopes Damasceno¹ Eliseu dos Santos Lima²
A partir da segunda metade do
século XX o surgimento de uma terceira geração da escola dos Annales se torna
inevitável. Com a participação de jovens na sua administração ocorreram muitas
mudanças intelectuais, e em decorrência disso tornou-se difícil traçar um
perfil dessa terceira geração. Vários membros que compunham esse grupo levaram
a frente o projeto de Febvre, expandindo a fronteiras da história, incorporando
a infância, o sonho, o corpo, e até mesmo o odor. Uns queriam o retorno da
história política e dos eventos, alguns continuaram a praticar a história
quantitativa ao mesmo tempo em que outros a criticavam. O que podemos perceber
é que nesse período havia vários conflitos e projetos historiográficos dentro
de um mesmo grupo. Também foi na terceira geração que ocorreu a inclusão da
mulher na historiografia dos Annales, e uma mulher recém incorporada, e que
merece destaque é Cristiane Klapisch, que segundo Burke fez um bom trabalho
sobre a história da toscana durante a Idade Média e o Renascimento, além desta,
outras mulheres também merecem destaque como é o caso de Mona Ozout, que fez um
estudo sobre os festivais durante a Revolução Francesa; Arlete Farge, que
estudou o mundo social das ruas da Paris no século XVIII; Michele Perrot, que
escreveu sobre a história do trabalho e a história da mulher.
Burke trata em sua obra sobre a
forma em que a mulher era tratada antes desta terceira geração e como ela foi
incorporada a partir de então:
"os historiadores anteriores
dos Annales haviam sido criticados pelas feministas por deixarem a mulher fora
da história, ou mais exatamente, por terem perdido a oportunidade de
incorporá-la à história de maneira mais integral, já que haviam obviamente
mencionado as mulheres de tempo em tempo." (BURKE, 1992, p. 56)
Com essa afirmativa podemos
perceber que até a terceira geração dos Annales, as mulheres não tiveram
participação com significância na historiografia. Além da incorporação feminina
esta geração ficou mais aberta à idéias vindas do exterior, Reis afirma que
"os Annales, apesar de sua vivacidade, nunca construíram uma escola no
sentido estrito, isto é um modelo de pensamento fechado em si mesmo (REIS,
2000), além das novas abordagens que ainda estão sendo exploradas por
historiadores, mas como nosso interesse é a inclusão da mulher na história, não
faremos um maior aprofundamento sobre esses assuntos.
Tentando compreender e explicar a
trajetória feminina na historiografia a partir da terceira geração da Escola
dos Annales, percebemos que a história das mulheres não fica restrita a França,
sede desta escola, ela se estende a países como a Grã-Betanha, Estados Unidos,
Olanda, Itália, dentre outros que também tiveram nomes de significância para a
historiografia. No final do século XIX, com a história positivista voltada para
as questões políticas e pelo domínio publico, o foco estava centrado nas
questões administrativas, políticas e militares, lugares estes onde a mulher
não estava inserida ou não tinha participação significante, daí é um
pressuposto de seu esquecimento, a não participação nos movimentos
historiográficos desta época. A Escola dos Annales tenta mudar isso e construir
uma história dos seres vivos, concreta e a trama do seu cotidiano. Foram estes
fatores junto com o desenvolvimento de novos campos como a história das
mentalidades e a história cultural que contribuíram para a incorporação das mulheres
à historiografia. Os movimentos feministas que começaram na década de 60 nos
Estados Unidos, assim como em outros países, tiveram grande contribuição para o
surgimento da história das mulheres. Esses movimentos reivindicavam direitos e
participações em setores da sociedade, isso levou a várias discussões em
universidades, que se viram obrigadas a criarem cursos e grupos de reflexão
sobre o assunto.
Para entendermos melhor o porquê da
dificuldade em se fazer uma história das mulheres, Cardoso e Vainfas afirmam
que "a escassez de vestígios acerca do passado das mulheres, produzidos
por elas próprias constitui-se num dos grandes problemas enfrentados pelos
historiadores." (CARDOSO E VAINFAS, p 195). Desta forma podemos perceber
algumas das barreiras que os historiadores encontram quando tentam fazer uma
trajetória da mulher. Numa tentativa de ampliar as fontes de pesquisa, Michelle
Perrot afirma que os arquivos particulares como os diários, fotos e anotações
são mais generosos em informações, e que tem um maior teor de conteúdos para
construção de uma história mais completa sobre as mulheres.
Disponível
em http://www.webartigos.com/artigos/escola-dos-annales-a-introducao-da-mulher-na-historiografia/54777/
acessos em 25/01/2013
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