
Por:
Eliazar Lopes Damasceno¹ Eliseu
dos Santos Lima²

Reconhecer a importância da mulher
no desenvolvimento das sociedades talvez seja a idéia que melhor expresse a
necessidade da introdução e do seu uso como objeto de estudo no campo
historiográfico. Desde tempos remotos vemos que, aqueles que faziam o uso da
escrita da história utilizavam de preferência á comunidade masculina como fator
primário de suas obras, e por que não falar das civilizações antigas que
deixavam a mulher como produto secundário nos trabalhos sociais, na religião e
suas práticas; cada civilização com sua "cegueira" moral. A mulher
desde antes foi motivo de gracejo e desprezo. Na cultura judaica encontramos a
seguinte oração feita por um homem: "Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus,
Rei do Universo que não me fizeste mulher"**. Esta era a oração matinal do
homem judeu, fazia parte da sua cultura, sendo motivo de agradecer a Deus. Já
para os gregos, inclusive os filósofos que também foram influenciados por este
pensamento machista, era motivo de agradecer ao destino por não ter nascido
mulher. Contudo barreiras foram quebradas com o passar dos séculos, novos
conceitos surgiram e alguns fatores contribuíram para a mulher surgir no campo
da história.
Para ter o seu nome inserido nos
livros de história e qualquer outro tipo de documento, a classe feminina
precisou de alguém que pudesse vê-la como um grande objeto de estudo e que este
tivesse uma visão ampla dos fatos que acontecia. Além disso, o historiador que
fosse fazer o uso da escrita deveria se desprender de qualquer sentimento de
machismo ou tipo de atitude de discriminação e de preconceito em suas diversas
áreas e especialmente na social. Como também, não ser um historiador
exclusivista quanto aos fatos, pessoas etc. Podemos dizer que dentre outras
muitas características do perfil desse historiador, essas seriam suas
principais qualidades.
A historiografia e os que faziam o
uso da escrita da historia, anteriores ao século XIX, assumiam uma postura e se
enquadravam a tudo que é de contrario a esse perfil traçado. Fazendo uma breve
analise das correntes historiográficas da época, vamos compreender que os
historiadores que compunham aquelas correntes deixavam transparecer uma visível
discriminação. Este termo refere-se basicamente a um tratamento desigual ou
injusto por parte de uma pessoa com relação a um grupo religioso, étnico,
social, cultural, sexual etc. Quando passamos a analisar as correntes
historiográficas anteriores e posteriores aos Annales vamos entender que esse
pensamento permeava a mente dos historiadores da época. Como não citar o
exemplo da historia positivista, que tem suas raízes "nos séculos XVI,
XVII e XIII com Bacon, Hobbes e Hume" (TRIVINOS, 2007:33) e ganha força no
"século XIX com August comte" (TRIVINOS, 2007:33). Esta corrente
tinha um grande interesse pelos fatos políticos e por aqueles que exerciam
certo domínio publico, privilegiava os fatos marcantes dos quais as mulheres
não participavam, excluindo e discriminando a classe feminina. A outra corrente
conhecida como marxista, criada por volta do século XIII por Carl Marx
baseava-se em questões políticas, sendo que "a história realizada pelos
marxistas é uma história estrutural e econômico-social e essencialmente
política" *** Talvez sem terem noção do prejuízo que estavam tendo quando
assumiram essa posição, agiam desta maneira.
A
visão dos fundadores da escola dos Annales possibilita a inclusão de vários
assuntos, de forma abrangente. Bloch e Febvre deixam de ter uma visão
horizontal da escrita da história e dos fatos e passam a vê-la e analisá-la, o
que lhes permitem entender que a historia não deveria se resumir somente as
questões relacionadas a política e matérias sócio-econômicas, mas sim as demais
situações que envolviam todo sistema social. O que vai permitir isso é uma
interdisciplinaridade que acontece entre os membros dos Annales e demais
profissionais de diferentes ciências como a sociologia e a antropologia. Talvez
a antropologia seja a coluna, não desprezando a sociologia, que vai a fundo no
estudo do ser humano, de suas ações, comportamento e organização e
"etnologicamente falando o termo Antropologia (anthropos = homem; logos -
estudo) significa o estudo do homem" (MARCONI e PRESOTTO, 1998:23),
possibilitando o entendimento do dinamismo humano e suas característica.
MARCONI e PRESOTTO falam que "o individuo não é visto como um simples
receptor e portador de cultura, mas como um agente de mudança cultural
desempenhando papel dinâmico e inovador" (MARCONI e PRESOTTO 1998:29). A
partir daí, poderíamos tentar entender a visão de Bloch e Febvre, na qual o ser
humano é visto como dinâmico, que provoca mudanças e é inovador. A partir de
então, com esta relação com outras ciências, é que começa a despontar a
possibilidade da mulher ser inserida no campo da história e é somente a partir
da 3ª geração que isto acontece como já foi mencionado anteriormente.
De acordo com os textos discutidos
podemos concluir que a Escola dos Annales teve grande importância na construção
da historiografia, pois durante seu período ocorreram várias mudanças na
ideologia, na cultura e nos intelectuais, criando uma nova forma de ver e fazer
história. Também foi fundamental para que as mulheres entrassem de vez na
historiografia, uma vez que sempre foram exclusas simplesmente por não terem
espaço para desempenhar um papel considerado relevante pela sociedade daquele
período, e até então só os "homens" faziam a história.
Disponível em http://www.webartigos.com/artigos/escola-dos-annales-a-introducao-da-mulher-na-historiografia/54777/
acessos em 25/01/2013
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