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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

ESCOLA DOS ANNALES: A INTRODUÇÃO DA “MULHER” NA HISTORIOGRAFIA (3º tópico)



*        3º tópico: A MULHER COMO OBJETO DE ESTUDO DA HISTORIOGRAFIA

Por: Eliazar Lopes Damasceno¹ Eliseu dos Santos Lima²


Reconhecer a importância da mulher no desenvolvimento das sociedades talvez seja a idéia que melhor expresse a necessidade da introdução e do seu uso como objeto de estudo no campo historiográfico. Desde tempos remotos vemos que, aqueles que faziam o uso da escrita da história utilizavam de preferência á comunidade masculina como fator primário de suas obras, e por que não falar das civilizações antigas que deixavam a mulher como produto secundário nos trabalhos sociais, na religião e suas práticas; cada civilização com sua "cegueira" moral. A mulher desde antes foi motivo de gracejo e desprezo. Na cultura judaica encontramos a seguinte oração feita por um homem: "Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do Universo que não me fizeste mulher"**. Esta era a oração matinal do homem judeu, fazia parte da sua cultura, sendo motivo de agradecer a Deus. Já para os gregos, inclusive os filósofos que também foram influenciados por este pensamento machista, era motivo de agradecer ao destino por não ter nascido mulher. Contudo barreiras foram quebradas com o passar dos séculos, novos conceitos surgiram e alguns fatores contribuíram para a mulher surgir no campo da história.
Para ter o seu nome inserido nos livros de história e qualquer outro tipo de documento, a classe feminina precisou de alguém que pudesse vê-la como um grande objeto de estudo e que este tivesse uma visão ampla dos fatos que acontecia. Além disso, o historiador que fosse fazer o uso da escrita deveria se desprender de qualquer sentimento de machismo ou tipo de atitude de discriminação e de preconceito em suas diversas áreas e especialmente na social. Como também, não ser um historiador exclusivista quanto aos fatos, pessoas etc. Podemos dizer que dentre outras muitas características do perfil desse historiador, essas seriam suas principais qualidades.
A historiografia e os que faziam o uso da escrita da historia, anteriores ao século XIX, assumiam uma postura e se enquadravam a tudo que é de contrario a esse perfil traçado. Fazendo uma breve analise das correntes historiográficas da época, vamos compreender que os historiadores que compunham aquelas correntes deixavam transparecer uma visível discriminação. Este termo refere-se basicamente a um tratamento desigual ou injusto por parte de uma pessoa com relação a um grupo religioso, étnico, social, cultural, sexual etc. Quando passamos a analisar as correntes historiográficas anteriores e posteriores aos Annales vamos entender que esse pensamento permeava a mente dos historiadores da época. Como não citar o exemplo da historia positivista, que tem suas raízes "nos séculos XVI, XVII e XIII com Bacon, Hobbes e Hume" (TRIVINOS, 2007:33) e ganha força no "século XIX com August comte" (TRIVINOS, 2007:33). Esta corrente tinha um grande interesse pelos fatos políticos e por aqueles que exerciam certo domínio publico, privilegiava os fatos marcantes dos quais as mulheres não participavam, excluindo e discriminando a classe feminina. A outra corrente conhecida como marxista, criada por volta do século XIII por Carl Marx baseava-se em questões políticas, sendo que "a história realizada pelos marxistas é uma história estrutural e econômico-social e essencialmente política" *** Talvez sem terem noção do prejuízo que estavam tendo quando assumiram essa posição, agiam desta maneira.
A visão dos fundadores da escola dos Annales possibilita a inclusão de vários assuntos, de forma abrangente. Bloch e Febvre deixam de ter uma visão horizontal da escrita da história e dos fatos e passam a vê-la e analisá-la, o que lhes permitem entender que a historia não deveria se resumir somente as questões relacionadas a política e matérias sócio-econômicas, mas sim as demais situações que envolviam todo sistema social. O que vai permitir isso é uma interdisciplinaridade que acontece entre os membros dos Annales e demais profissionais de diferentes ciências como a sociologia e a antropologia. Talvez a antropologia seja a coluna, não desprezando a sociologia, que vai a fundo no estudo do ser humano, de suas ações, comportamento e organização e "etnologicamente falando o termo Antropologia (anthropos = homem; logos - estudo) significa o estudo do homem" (MARCONI e PRESOTTO, 1998:23), possibilitando o entendimento do dinamismo humano e suas característica. MARCONI e PRESOTTO falam que "o individuo não é visto como um simples receptor e portador de cultura, mas como um agente de mudança cultural desempenhando papel dinâmico e inovador" (MARCONI e PRESOTTO 1998:29). A partir daí, poderíamos tentar entender a visão de Bloch e Febvre, na qual o ser humano é visto como dinâmico, que provoca mudanças e é inovador. A partir de então, com esta relação com outras ciências, é que começa a despontar a possibilidade da mulher ser inserida no campo da história e é somente a partir da 3ª geração que isto acontece como já foi mencionado anteriormente.
De acordo com os textos discutidos podemos concluir que a Escola dos Annales teve grande importância na construção da historiografia, pois durante seu período ocorreram várias mudanças na ideologia, na cultura e nos intelectuais, criando uma nova forma de ver e fazer história. Também foi fundamental para que as mulheres entrassem de vez na historiografia, uma vez que sempre foram exclusas simplesmente por não terem espaço para desempenhar um papel considerado relevante pela sociedade daquele período, e até então só os "homens" faziam a história.

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